A UnB

A Universidade de Brasília

Criação da Universidade
“Sendo um descontente com a universidade,
com a sociedade e com a nação, tal qual
elas eram e são, o que me movia e incitava
era sempre o impulso de mudar,nunca o de
conservar.” (Darcy Ribeiro).

   Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira são considerados os pais intelectuais da Universidade de Brasília. Na década de 50, trabalharam juntos na elaboração a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, e em 1959 foram chamados pelo então presidente, Juscelino Kubitscheck, para elaborar o projeto da Universidade. Em 1960, foi criada a comissão de elaboração do projeto da UnB no Congresso Nacional, liderada por Darcy
Ribeiro, Oscar Niemayer e Ciro dos Anjos.
   Entretanto, o projeto não foi facilmente aprovado, tendo de enfrentar três grandes grupos opositores. O primeiro era a Igreja Católica que desejava que a Universidade de Brasília fosse católica. O segundo era o grupo liderado por Israel Pinheiro, que se opunha abertamente à construção de uma Universidade na capital federal devido aos riscos de manifestações estudantis e fomento de greves operárias. O terceiro era a bancada udenista do Congresso, que alegava que os custos de construção seriam muito grandes e que o caráter de fundação da Universidade lhe promoveria uma autonomia administrativa efinanceira grande demais.
   Para piorar, na mesma semana em que o projeto da UnB seria votado, Jânio Quadros, presidente da época, renunciou seu cargo, de modo que somente através de um jogo político e da interferência do deputado Josué de Castro foi possível que a votação fosse levada adiante, sendo, enfim, aprovada. Então, após superar os transtornos iniciais, a Universidade de Brasília foi, finalmente, inaugurada no dia 21 de abril de 1962.

Arquitetura Inovadora

   A arquitetura da UnB reflete o ideal de reformulação do modelo de universidade brasileira, proposto por Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, que visavam a um surto de ciência e arte, além de uma maior integração dentro da Universidade, através de suas diferentes áreas de conhecimento, e da Universidade com a sociedade. Ao criticar o modelo universitário vigente, diz que:

“Seu enclausuramento não ensejava qualquer comunicação
extra curricular livre e vivaz dentro da própria comunidade 
universitária– entre os estudantes, entre os professores,
entre os estudantes e os professores – nem da universidade
com a cidade e o país, através de programas
efetivos de difusão cultural e a extensão universitária.”

   Assim, Oscar Niemayer projetou o Instituto Central de Ciências (ICC, ou Minhocão), um prédio de 780m de comprimento, 80m de largura e três pisos, que substituiu outros 40 prédios projetados anteriormente por Lúcio Costa. O objetivo era promover a maior integração dentro da Universidade, de forma que, ao invés de cada instituto se isolar em seu próprio prédio, todos interagissem no ICC. Também vale notar que outros
prédios da UnB receberam nomes de pessoas que influenciaram sua história:

   Campus Universitário Darcy Ribeiro: maior campus da UnB, localizado no Plano Piloto de Brasília,homenageia seu principal idealizador, que também foi membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira número 11, além de ter recebido o título de Doutor Honoris Causa da Sorbonne, da Universidade de Brasília, da Universidade de Copenhague, da Universidade da República do Uruguai e da Universidade Central da Venezuela. Darcy Ribeiro foi o primeiro reitor da UnB.
   Pavilhão Anísio Teixeira (PAT): além de ter trabalhado ao lado de Darcy Ribeiro na formulação do projeto da Universidade, Anísio Teixeira foi seu segundo reitor. Outro feito de destaque é ter sido um dos fundadores da CAPES (Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior).
   Pavilhão João Calmon (PJC): apesar de não ter participado diretamente da história da UnB, João Calmon foi o redator da Emenda Constitucional que prevê que 13% da receita total de impostos arrecadados pela União sejam destinados à educação. No caso de Estados e municípios, essa porcentagem é de 25%.
   Centro Comunitário Athos Bulcão: foi professor do Instituto Central de Artes da UnB entre 1963 e 1965, quando se demitiu, juntamente com outros 209 professores, em protesto a repressão da ditadura (veja mais em Anos de Chumbo).
   Auditório Joaquim Nabuco (auditório da FA): foi um dos diplomatas mais importantes do Brasil Império, atuando nos Estados Unidos, França e Inglaterra; foi um grande amigo de Machado de Assis, a quem ajudou na criação da Academia Brasileira de Letras, da qual também fez parte. Entretanto, a sua atuação de maior destaque foi ter sido um dos grandes defensores da causa abolicionista.

Projeto Pedagógico

“Nosso propósito, em consequência, era nada menosdo que passar
a limpo a universidade, refazendo suas formas de organização e de ação
para que ela se capacitasse não a reproduzir dóceis elites tradicionais e
modernosas, mas a produzir na cidade inovadora uma gente nova de
mentalidade renovada, sem nenhum complexo de inferioridade colonial e
sem nenhuma subserviência classista. Por esta via, o que almejávamos
era  formar os quadros de que necessitamos para, a partir da reforma da
universidade, reformular a nação mesma. (...) O que nos primórdios era,
por conseguinte, fazer da Universidade de Brasília aquele centro de
pesquisas completo, por cobrir todas as áreas, e organicamente integrado
numa estrutura unificada, que lhes permitisse operar num alto nível, tanto
para o cultivo e o ensino da ciência, como para o estudo crítico dos temas
socialmente relevantes, e ainda para a realização das pesquisas de maior
importância estratégica para o desenvolvimento autônomo do Brasil.”

   Para Darcy Ribeiro, a Universidade de Brasília tem três objetivos principais: a alta qualificação científica, a liberdade docente e autonomia acadêmica e a consciência crítica nacional. Para alcançar esses objetivos, a proposta é de um projeto pedagógico inovador, totalmente diferente do que funcionava nas outras Universidades brasileiras, incitando uma reforma universitária.
   A qualificação científica se daria através do cumprimento de dois anos de um ciclo básico das ciências e humanidades. Assim, o aluno só optaria pela sua orientação profissional quando já estivesse mais amadurecido. Após esses dois anos, as opções seriam seguir a faculdade profissional (ensino técnico) ou o bacharelado. Caso se optasse pelo bacharelado, em seguida, poder-se-ia cursar uma licenciatura ou tentar
um mestrado.
   Com isso, percebe-se que há uma grande preocupação com o que Darcy Ribeiro chama de “desenvolvimento em quarto nível”, que se trata da formação de docentes e cientistas. Para Ribeiro, o Brasil sofre de um grande problema de falta de docentes capacitados para darem aula tanto no ensino médio quanto no ensino superior; e de fuga de cientistas para o exterior devido às pequenas oportunidades dentro do país. Então, o Brasil só alcançaria a autonomia acadêmica necessária no momento em que conseguisse formar bons professores e realizar estudos próprios.
   Já para alcançar o último objetivo, consciência crítica nacional, seriam incentivados os projetos de extensão e a interdisciplinaridade, que seria alcançada através do CEAM (Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares, que fica no Multiuso). Para isso, é preciso que a Universidade seja um centro de pesquisa completo, abrangendo todas as unidades do saber. Embora apenas o CEAM tenha sido de fato implementado e exista até hoje, os valores das outras propostas ainda são muito fortes na estrutura
curricular da UnB. Isso pode ser percebido pela grande quantidade de matérias optativas que devem ser feitas e pela obrigatoriedade de matérias introdutórias de humanas mesmo nos cursos de exatas e biológicas.

Anos de Chumbo

“Aquela universidade, nascida do otimismo da era Juscelino,
do reformismo da era Jango e do utopismo dos melhores
cientistas brasileiros, que podendo antevero que o Brasil
pode ser, se desesperam com o que o Brasil é, não é compatível
com nenhuma ordem ditatorial de objetivos antinacionais e
antipopulares. A verdade inteira é que a UnB não era
domesticável por nenhum sistema regressivo e repressivo.”

   A Universidade de Brasília atravessou difíceis momentos durante os anos da ditadura, sendo invadida diversas vezes pelas forças militares, testemunhando seus estudantes serem presos e seus professores exilados. A primeira invasão foi em 1964 e ficou conhecida como o “Dia da Vergonha”: neste dia, vários professores foram levados a um pátio militar, onde foram obrigados permanecer nus por toda a tarde enquanto eram humilhados pelos militares.
   A segunda invasão ocorreu em 1965, o “Dia da Diáspora”, em que 15 professores foram demitidos acusados de subversão. Em apoio, outros 210 professores (entre eles, Athos Bulcão) se demitiram. Nesse dia, a UnB perdeu 80% de seu quadro de professores, o que levou a uma quebra de seu processo inovador e reforma universitária, que nunca mais retomariam a mesma intensidade de seus anos iniciais.
   Em 1968, ocorreu a terceira invasão, quando vários estudantes protestavam em repúdio a morte do estudante Édson Luís. O resultado do protesto foi a prisão de sete estudantes da UnB e perseguição a Honestino Guimarães, que só foi preso em 1973 no Rio de Janeiro, entrando para a lista dos desaparecidos do período militar. Sua morte só foi reconhecida em 1996 e em sua homenagem, o Diretório Central dos
Estudantes da UnB leva seu nome.
   Após um decreto presidencial, foi instituído que todos os reitores de Universidades públicas seriam escolhidos pelo presidente, o que levou o doutor em física e oficial da marinha José Carlos de Almeida Azevedo ao cargo de reitor da UnB entre os anos 1976 a 1985, impulsionando novas manifestações por parte dos estudantes e novas repressões por parte dos militares. Somente em 1985 ocorreu a redemocratização da Universidade, que teve Cristovam Buarque como primeiro reitor eleito pela comunidade acadêmica.
   José Geraldo de Sousa Junior é o atual reitor, tendo sido escolhido pela comunidade acadêmica através de eleição paritária entre funcionários, alunos e professores, em 2008, após a cassação do mandado do ex-reitor Timothy Martin Mulholland, devido a escândalos de corrupção. A duração de cada mandato na reitoria é de quatro anos.

Citações retiradas de: RIBEIRO, Darcy. UnB: invenção e descaminho. Rio de Janeiro: Editora Avenir, 1978.